“Ele parecia um homem de verdade”
Artigo especial dedicado ao aniversário de Mark Sandman, escrito por Adriana Arakake e Henrique Maranhão.

Banda Morphine nos anos 90, divulgação

Assim como Frank Sinatra, Mark Sandman passou por aquela experiência muito comum na primeira metade do século XX – o momento em que um pai dava duas opções ao filho: ou arrume um emprego ou siga seu rumo. Sandman seguiu seu rumo, mas, diferente de Sinatra, que foi direto para Nova York bater em todas as portas de gravadoras, preferiu uma jornada, digamos, espiritual.

Ao estilo do caminho trilhado por Christopher McCandless, o jovem que inspirou o filme Na Natureza Selvagem, dirigido por Sean Penn, Sandman vagou por regiões diversas, e, assim como McCandless, também chegou ao Alasca, trabalhando profissionalmente como pescador, por um ano.

Quando faço uma analogia entre o processo espiritual de McCandless e a busca por reconhecimento de Sinatra, sinto que Sandman, como uma antítese do rockstar, conseguiu transitar entre os dois caminhos: o desenvolvimento do espírito e o reconhecimento do estilo no meio artístico.

Morphine também é jazz!

Formada em 1989, em Boston, a banda Morphine incorporou elementos do jazz de maneira inovadora. A mistura de jazz, blues e rock alternativo resultou em uma sonoridade introspectiva e sombria, permeada por improvisações. O trio, liderado por Mark Sandman no vocal e no baixo de duas cordas, contava com Dana Colley no saxofone barítono e Jerome Deupree, posteriormente substituído por Billy Conway, na bateria.

Morphine transitava livremente entre gêneros, mantendo um caráter experimental e imprevisível. Colley, com seu saxofone barítono, criava texturas jazzísticas inconfundíveis, enquanto as letras sombrias de Sandman evocavam a emoção crua do jazz. Faixas como “Buena” exemplificam essa ousadia musical, mostrando como a banda reimaginava o jazz em novos contextos, sem perder a essência de liberdade que define o gênero.

Solidão, amor, vícios e a complexidade da vida urbana com uma abordagem poética e sombria. A narrativa de Mark Sandman refletia uma visão melancólica e noturna, capturando emoções universais. Músicas como “Thursday” e “Cure for Pain” exemplificam essa profundidade emocional, unindo lirismo evocativo a uma sonoridade singular.

Morphine deixou um impacto duradouro na música, ao mesclar jazz com outros estilos, redefinindo o rock e inspirando novas gerações. A essência de liberdade e inovação permanece. Josh Homme, fundador do grupo Queens of the Stone Age, definiu sua visão sobre quando viu Sandman pela primeira vez, em contraste com tantas outras personalidades da indústria musical:

“Ele parecia um homem de verdade”.

Adriana Arakake é colunista Uol e apresentadora do programa SouJazz, na Rádio Antena Zero.

Henrique Maranhão é roteirista, compositor e produtor musical.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canal do Rock. **

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